O Banco Central prometeu e cumpriu:
acelerou o ritmo de alta de juros este mês para 0,50 ponto porcentual e levou a
taxa básica Selic para 11,75% ao ano, mesmo em um cenário de economia
estagnada. É o maior patamar desde outubro de 2011, quando a taxa estava
em 12% - no fim daquele mês, a Selic foi reduzida para 11,5%. A decisão
unânime era aguardada por uma parte pequena do mercado financeiro, que acabou
se tornando majoritária nos últimos dias após sinais emitidos pela própria
instituição.
De acordo com o comunicado que se
seguiu à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o esforço adicional
de política monetária "tende a ser implementado com parcimônia".
Isso, conforme os diretores, considerando os efeitos cumulativos e defasados
dessa política. A nota é bem diferente da divulgada na decisão anterior e, ao
mesmo tempo que avança na magnitude de alta, apresenta como contraponto, ao
usar a palavra "parcimônia", a necessidade de cuidado nesse ciclo de
alta que se iniciou em outubro. A próxima reunião está marcada para 21 de
janeiro.
Esse aumento maior estava na conta de
dois terços dos analistas consultados peloAE
Projeções, já ressabiados pela "bola nas
costas" que tomaram na reunião de outubro. Na ocasião, o BC surpreendeu ao
elevar a taxa em 0,25 pp, quando unanimemente se aguardava estabilidade.
Passado o susto, houve quem falasse até que a instituição tentou passar pistas,
mas que a comunicação foi prejudicada pelo ruído eleitoral da campanha à
Presidência da República.
Desta vez, o BC fez questão de deixar
claro que poderia elevar o tom em suas ações. Em evento da autarquia em
Florianópolis (SC), o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, garantiu
que o Copom não seria complacente com a inflação e acrescentou que, se
considerasse adequado, poderia recalibrar a política monetária. Para quem ficou
com dúvidas sobre a mensagem pretendida, o diretor foi ainda mais claro:
"para bom entendedor, pingo é I".
Vigilante. Na semana passada, quando confirmado à frente
do BC no novo mandato de Dilma Rousseff, foi o presidente Alexandre Tombini que
reforçou o recado. Ele admitiu que a inflação acumulada em 12 meses ainda
seguia elevada e que, nessas circunstâncias, a política monetária deve se
manter "especialmente vigilante" para evitar que ajustes de preço se
espalhem para o resto da economia. Tombini apenas repetiu o que a ata do Copom
anterior já havia trazido. Mas foi o presidente, em carne e osso, dizendo com
todas as letras que estava preocupado com uma difusão da inflação pela
economia. Isso tem peso maior. Ainda mais no cenário em que foi dita a frase,
ao lado dos dois novos nomes da equipe econômica (Joaquim Levy, no Ministério
da Fazenda, e Nelson Barbosa, no Planejamento).
A expectativa em relação à atuação da
equipe econômica - largamente aprovada pelo mercado financeiro - é um
ingrediente a mais nas formações das apostas dos analistas sobre a condução da
política monetária. Acredita-se que haverá mais austeridade fiscal, o que pode
contribuir para o trabalho desempenhado pelo BC nos juros em 2015, quando a
alta começa a impactar a economia.
Ao contrário da decisão anterior, que
foi dividida por causa de dúvidas de alguns diretores a respeito sobre a
magnitude e a persistência dos ajustes de preços, a decisão agora foi tomada de
forma unânime. Todos devem ter chegado a um consenso de que a incorporação da
alta do dólar sobre os preços domésticos - tornando-os mais próximos dos
internacionais - e o ajuste dos preços administrados pelo governo em relação
aos livres é, sim, um fator de pressão a mais sobre a inflação. Esta era uma
dúvida expressa nas comunicações anteriores da autoridade monetária.
A grande questão que fica é sobre
como essa alta mais forte dos juros, que é repassada de forma quase que
automática ao mercado de crédito, pode prejudicar a atividade econômica, que dá
poucos indícios de recuperação. No ano até o terceiro trimestre, a alta do
Produto Interno Bruto (PIB) está em 0,2%.
Veja abaixo a
íntegra do comunicado:
"O Copom decidiu, por
unanimidade, intensificar, neste momento, o ajuste da taxa Selic e elevá-la em
0,50 p.p., para 11,75% a.a., sem viés.
Considerando os efeitos cumulativos e
defasados da política monetária, entre outros fatores, o Comitê avalia que o
esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com
parcimônia.
Votaram por essa decisão os seguintes
membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes,
Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo,
Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques."
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